quarta-feira, 31 de agosto de 2011

O coração e a razão

Rudes são minhas palavras
Mas não o meu coração
Só falo da boca pra fora
Pra destilar a emoção

Sei que a razão é quem manda
Mas, como desafiar?
A força do amor que sinto
Por quem elegi para amar

A razão é conselheira
Sábia, fria e cruel
E porque nunca amou
É amarga feito fel

Meu coração manda em mim
Mas a razão quer mandar
E vou viver sempre assim
Entre a terra e o mar

Mas o bom disso tudo
É o equilíbrio caboclo
Que ama com muita razão
Aquele coração maroto.

Cristóvam Aguiar (14/08/10)
Destralhe-se

por Carlos Solano

-Bom dia, como tá a alegria?
Diz dona Francisca, minha faxineira rezadeira, que acaba de chegar.
-Antes de dar uma benzida na casa, deixa eu te dar um abraço que preste!
E ela me apertou.
Na matemática de dona Francisca, quatro abraços por dia dão para sobreviver; oito ajudam a nos manter vivos; 12 fazem a vida prosperar.
Falando nisso, vida nenhuma prospera se estiver pesada e intoxicada. Já ouviu falar em toxinas da casa? Pois são:
Objetos que você não usa; roupas que você não gosta ou não usa há um ano; coisas feias; coisas quebradas, lascadas ou rachadas; velhas cartas, bilhetes; plantas mortas ou doentes; recibos/jornais/revistas, antigos; remédios vencidos; meias velhas, furadas; sapatos estragados.
Ufa, que peso! O que está fora está dentro e isso afeta a saúde, aprendi com dona Francisca. Saúde é o que interessa. O resto não tem pressa! Ela diz, enquanto me ajuda a 'destralhar', ou liberar as tralhas da casa. O 'destralhamento' é a forma mais rápida de transformar a vida e ajuda as outras eventuais terapias.
Com o destralhamento:
- A saúde melhora.
- A criatividade cresce.
- Os relacionamentos se aprimoram.
É comum se sentir cansado, deprimido, desanimado, em um ambiente cheio de entulho, pois existem fios invisíveis que nos ligam à tudo aquilo que possuímos.
Outros possíveis efeitos do "acúmulo e da bagunça":
- sentir-se desorganizado
- fracassado
- limitado
- aumento de peso
- apegado ao passado
No porão e no sótão, as tralhas viram sobrecarga; Na entrada, restringem o fluxo da vida; Empilhadas no chão, nos puxam para baixo; Acima de nós, são dores de cabeça; Sob a cama, poluem o sono. Oito horas, para trabalhar; Oito horas, para descansar; Oito horas, para se cuidar.
Perguntinhas úteis na hora de destralhar-se
- Por que estou guardando isso?
- Será que tem a ver comigo hoje?
- O que vou sentir ao liberar isto?
E vá fazendo pilhas separadas.
- Para doar
- Para jogar fora

Para destralhar mais:
- livre-se de barulhos
- das luzes fortes
- das cores berrantes
- dos odores químicos
- dos revestimentos sintéticos...
e também...
- libere mágoas
- pare de fumar
- diminua o uso da carne
- termine projetos inacabados.
“Se deixas sair o que está em ti, o que deixas sair te salvará. Se não deixas sair o que está em ti, o que não deixas sair te destruirá", arremata o mestre Jesus, no evangelho de Tomé. “Acumular nos dá a sensação de permanência, apesar de a vida ser impermanente”, diz a sabedoria oriental. O Ocidente resiste a essa idéia e, assim, perde contato com o sagrado instante presente.
Dona Francisca me conta que “as frutas nascem azedas e no pé, vão ficando docinhas com o tempo”. A gente deveria de ser assim, ela diz: “Destralhar ajuda a adocicar”.
Se os sábios concordam, quem sou eu para discordar.
“Dê a quem você ama: asas para voar, raízes para voltar e motivos para ficar”.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

O dia em que eu matei Joana
Uma odisséia dos tempos modernos


Tal qual Ulisses eu era um aventureiro. Divertia-me junto aos meus amigos e amigas, travando minhas batalhas em terras estrangeiras ou dentro de mim mesmo. Enquanto isso, minha linda Penélope me aguardava em casa, ansiosa pela minha volta. Ela sabia que eu sempre voltava. E por isso não dava chance aos oportunistas que a assediavam. As aventuras davam ânimo à minha vida, me livravam do tédio, me davam prazer. Mas, não mais do que Penélope poderia me dar.

E assim o tempo foi passando e, sem que eu percebesse, Penélope foi mudando, ficou doente, e passou a ser irritadiça e hostil. Já não era tão alegre e feliz quanto antes, e transformara a vida no lar num verdadeiro inferno de conflitos. Eu senti o golpe. Passei a me dedicar a ajudá-la a se curar. Mas ela não queria ajuda. No auge da sua loucura ela queira obrigar a todos agirem como ela. Só ela conhecia a verdade das coisas, só ela sabia como fazer qualquer coisa, e tudo tinha que ser feito ao modo dela. O menor gesto fora do padrão por ela estabelecido era motivo para um novo conflito.

Busquei ajuda com amigos médicos, religiosos, usei meizinhas e orações, métodos científicos ou não, tudo era válido para curar minha amada Penélope, mas nada surtia efeito. Desgostoso, me afundei mais ainda nas aventuras. E um belo dia, navegando por um daqueles mares nunca dantes navegados, conheci uma linda feiticeira. Joana era como Circe, a feiticeira da mitologia grega que transformava os homens em animais que a obedeciam cegamente.

Nos tempos modernos, Circe é inimiga da Mulher Maravilha. Aliás, ela é inimiga de todas as mulheres, as quais ela quer tornar tão infelizes quanto ela. Joana era assim, embora eu não tenha reconhecido isso logo de início. E tal qual Ulisses, fui envolvido e passei a amá-la, submetendo-me às suas vontades e desejando apenas vê-la feliz. Isso amenizava o sofrimento da minha vida com Penélope.

Diz-se que um ser apaixonado perde toda noção da realidade. Fica cego, surdo e mudo. Só vê, só ouve e só fala o que lhe convém. Ali estava eu, totalmente envolvido e dominado pelo feitiço do amor. Afastado do meu lar, dos meus familiares, dos meus amigos, da minha vida. Só tinha olhos para Joana.

Mas um dia, Joana por alguns momentos perdeu o controle sobre mim e eu pude ver seu verdadeiro rosto. Levei um tremendo susto. Mas, nem por isso, acordei. Achava que com meu amor poderia curá-la e fazer dela o ser bonito que ela aparentava ser.

Uma coisa curiosa aconteceu então. A partir daquele dia, sempre que voltava ao meu lar, notava que Penélope melhorava a olhos vistos e estava novamente me amando como nos tempos em que vivíamos felizes. Mas, parecia ser tarde demais. Embora reconhecendo a sua melhora e o seu amor, ainda assim, eu a rejeitava.

Disse a ela então que iria embora de uma vez, para não mais voltar. Ela caiu em prantos e me deu a maior prova de amor que uma mulher pode dar a um homem. Disse-me que mesmo que eu tivesse outra mulher, ainda assim ela me queria. Que seria melhor me ter pela metade do que me perder por inteiro. Eu não acreditei na sinceridade das suas palavras, mas resolvi dar uma chance para que ela me demonstrasse, na prática, o que me dizia.

Quando Joana soube do ocorrido, ficou furiosa. Percebeu que estava perdendo o poder sobre mim e mudou completamente. Brigamos pela primeira vez e muitas outras vezes depois. Mas eu ainda estava apaixonado e ainda queria vê-la feliz. Mas na sua fúria, ela se mostrou mais uma vez como ela verdadeiramente era. E eu, horrorizado, me perguntava como poderia ter amado semelhante ser.

Quando percebi o quanto estava perto de um abismo, recorri a um trunfo que carrego comigo como arma e amuleto, presente de Deus do qual nunca me separei. Soltei a Besta Fera. Ela me sacudiu, me fez acordar do sonho ilusório, do feitiço do amor, e partiu para cima de Joana fazendo-a em pedaços.

Estes pedaços eu cremei em fogueira sagrada e ofertei a fumaça aos céus que me protegem. Naquele dia eu matei Joana e joguei suas lembranças na fumaça do desprezo e do esquecimento.
Sou um homem livre e feliz outra vez, vivendo ao lado da minha Penélope.

Cristóvam Aguiar

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Sandy faz anal, coisa e tal


Às vezes eu acho o mundo bobo, bobíssimo. As polêmicas bestas, as discussões estéreis. E tenho a impressão de que ninguém está mais a fim de levar a vida muito a sério. E daí que a Sandy faz sexo anal? Nem discuto se a cantora disse isso com todas as letras, se a revista deturpou as palavras dela, se dar o c... é, de fato, dor ou é prazer (uma questão mitológica do tipo quem nasceu primeiro: ovo ou galinha).

Fico impressionada como a sexualidade das pessoas interessa as outras. Assumir homossexualidade, por exemplo, dá sempre manchete de jornal. Bissexualidade, então, é tendência da estação. Por quê? Alguém poderia dizer. Por que é tão importante saber o que um parente, amigo, colega de trabalho, um ídolo do cinema ou da música faz entre quatro paredes? E por que algumas dessas pessoas também têm a necessidade de se expor publicamente? Só eu acho tudo isso muito estranho?

No limiar entre a infância e a adolescência morei em frente a um pensionato para mulheres. Entre as pensionistas, uma jovem, bonita, solteira. A vida dos vizinhos era especular a condição sexual dela. Uma nuvem de fofoca perseguia a mulher enquanto ela passava pela rua, simpática, carregando sozinha as sacolas do supermercado. Outra também vivia na boca do povo por, supostamente, manter um caso com um homem casado. Se as teorias todas eram verdade ou imaginação, pouco importava; valia mais a especulação.

Havia outra vizinha (casada, mãe de família) que não suportava os comentários. Dizia que era coisa de gente de cabeça pequena, do interior – e enquanto varria a calçada de casa chamava todo mundo de desocupado e pedia para que deixasse a vida alheia em paz. Por algum tempo pensei que ela estivesse correta. Mas o mau hábito permanece aí, atual e globalizado, cruzando interiores pacatos e capitais. No mais: já era hora de deixar a Sandy dar o c... em paz.
NE: Li este texto da Isolda Herculano e achei muito interessante, por isso resolvi publicar aqui. Assino embaixo.
Publicado em http://isoldaherculano.blogspot.com


quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Gigliola Cinquetti - Non ho letat

O segredo do xixi em grupo

Li este texto e resolvi dividir com vocês. É um pouco longo, mas, é muito interessante, vale a pena conferir. Não tenho certeza da autoria, por isso não vou citar.


"Só uma mulher consegue entender cada vírgula deste texto, mas os homens têm que ler para saber compreendê-las!
Quando você TEM que ir ao banheiro público, você encontra uma fila de mulheres, que faz você pensar que o Bradd Pitt deve estar lá dentro. Você se resigna e espera, sorrindo para as outras mulheres que também estão com braços e pernas cruzados na posição oficial de "estou me mijando".

Finalmente chega a sua vez, isso, se não entrar a típica mamãe com a menina que não pode mais se segurar.
Você, então verifica cada cubículo por debaixo da porta para ver se há pernas. Todos estão ocupados. Finalmente, um se abre e você se lança em sua direção quase puxando a pessoa que está saindo.Você entra e percebe que o trinco não funciona (nunca funciona); não importa... você pendura a bolsa no gancho que há na porta e se não há gancho (quase nunca há gancho), você inspeciona a área.. o chão está cheio de líquidos não identificados e você não se atreve a deixar a bolsa ali, então você a pendura no pescoço enquanto observa como ela balança sob o teu corpo, sem contar que você é quase decapitada pela alça porque a bolsa está cheia de bugigangas que você foi enfiando lá dentro, a maioria das quais você não usa, mas que você guarda porque nunca se sabe...

Mas, voltando à porta...
Como não tinha trinco, a única opção é segurá-la com uma mão, enquanto, com a outra, abaixa a calcinha com um puxão e se coloca "na posição". Alívio...... AAhhhhhh.....finalmente...
Aí é quando os teus músculos começam a tremer [...] Porque você está suspensa no ar, com as pernas flexionadas e a calcinha cortando a circulação das pernas, o braço fazendo força contra a porta e uma bolsa de 5 kg pendurada no pescoço.


Você adoraria sentar, mas não teve tempo de limpar o assento nem de cobrir o vaso com papel higiênico. No fundo, você acredita que nada vai acontecer, mas a voz de tua mãe ecoa na tua cabeça "jamais sente em um banheiro público!!!" e, assim, você mantém "a posição" com o tremor nas pernas... E, por um erro de cálculo na distância, um jato finíssimo salpica na tua própria bunda e molha até tuas meias!! Por sorte, não molha os sapatos. Adotar "a posição" requer grande concentração.

Para tirar essa desgraça da cabeça, você procura o rolo de papel higiênico, maaassss, para variar, o rolo está vazio...! Então você pede aos céus para que, nos 5 kg de bugigangas que você carrega na bolsa, haja pelo menos um miserável lenço de papel. Mas, para procurar na bolsa, você tem que soltar a porta. Você pensa por um momento, mas não há opção...

E, assim que você solta a porta, alguém a empurra e você tem que freiá-la com um movimento rápido e brusco enquanto grita OCUPAAADOOOO!!!
Aí, você considera que todas as mulheres esperando lá fora ouviram o recado e você pode soltar a porta sem medo, pois ninguém tentará abri-la novamente (nisso, nós, as mulheres, nos respeitamos muito) e você pode procurar seu lenço sem angústia. Você gostaria de usar todos, mas quão valiosos são em casos similares e você guarda um, por via das dúvidas. Você então começa a contar os segundos que faltam para você sair dali, suando porque você está vestindo o casaco já que não há gancho na porta ou cabide para pendurá-lo. É incrível o calor que faz nestes lugares tão pequenos e nessa posição de força que parece que as coxas e panturrilhas vão explodir. Sem falar do soco que você levou da porta, a dor na nuca pela alça da bolsa, o suor que corre da testa, as pernas salpicadas...

A lembrança de sua mãe, que estaria morrendo de vergonha se a visse assim, porque sua bunda nunca tocou o vaso de um banheiro público, porque, francamente, "você não sabe que doenças você pode pegar ali"
[...] você está exausta. Ao ficar de pé você não sente mais as pernas. Você acomoda a roupa rapidíssimo e tira a alça da bolsa por cima da cabeça!....

Você, então, vai à pia lavar as mãos. Está tudo cheio de água, então você não pode soltar a bolsa nem por um segundo. Você a pendura em um ombro, e não sabendo como funciona a torneira automática, você a toca até que consegue fazer sair um filete de água fresca e estende a mão em busca de sabão. Você se lava na posição de corcunda de notre dame para não deixar a bolsa escorregar para baixo do filete de água... O secador, você nem usa. É um traste inútil, então você seca as mãos na roupa porque nem pensar usar o último lenço de papel que sobrou na bolsa para isso.

Você então sai. Sorte se um pedaço de papel higiênico não tiver grudado no sapato e você sair arrastando-o, ou pior, a saia levantada, presa na meia-calça, que você teve que levantar à velocidade da luz, deixando tudo à mostra!

Nesse momento, você vê o seu amigo que entrou e saiu do banheiro masculino e ainda teve tempo de sobra para ler um livro enquanto esperava por você. "Por que você demorou tanto?" Pergunta o idiota. Você se limita a responder: "A fila estava enorme".
E esta é a razão porque nós, as mulheres, vamos ao banheiro em grupo. Por solidariedade, já que uma segura a tua bolsa e o casaco, a outra segura a porta e assim fica muito mais simples e rápido já que você só tem que se concentrar em manter "a posição" e a dignidade.

Obrigada a todas as amigas que já me acompanharam ao banheiro."