Quando fazemos uma leitura dos
Evangelhos com 'olhos de ver' e com foco nos dias atuais, surpreende-nos a
quantidade de informações e a preocupação de Jesus com o futuro, não somente
aquele que se apresentava de imediato para seus discípulos e apóstolos, mas o
futuro referindo-se aos milênios que se sucederiam para a alma humana, o que
ele conhecia muito bem.
Na escolha dos doze, que chamaria de
apóstolos, Jesus contava com os espíritos mais capazes deste orbe para a difusão
da sua mensagem de amor. Sendo a realização de um projeto extraordinário e
grandioso – a transformação da Humanidade terrena – convocou diversos níveis
hierárquicos para serem intérpretes e divulgadores de suas ações e de seus
ensinamentos, o que tornou possível que a mensagem chegasse aos nossos dias.
Dentre eles, Pedro e João (o
evangelista) estão mais presentes nas narrativas dos Evangelhos. Os demais eram
"homens comuns, corajosos e trabalhadores, mas que ficavam a uma distância
incalculável de um místico profundo como João, de um teólogo intelectualizado
como Paulo, e de um administrador entusiasta como Pedro", nas palavras de
Humberto de Campos, no livro Boa Nova, psicografado por Chico Xavier.
Entretanto, atendendo àquela convocação, estes homens dariam a vida pelo Mestre
e levariam sua palavra a lugares distantes e inóspitos.
Composto o colégio de apóstolos, mesmo
com reduzido número, o grupo vive de início algumas dificuldades em se
harmonizar. Humberto de Campos, na obra citada, informa que Jesus por vezes os
surpreendia em discussões inúteis do tipo "qual deles seria o maior no
reino de Deus" ou qual revelava maior sabedoria no campo do Evangelho.
"Homens comuns", que no trabalho apostólico se harmonizariam.
Foram muitas as passagens que revelaram
as dificuldades que Jesus viveu em relação a eles: a da "fé que move
montanhas" (Mateus 17:14 a 20); "deixai vir a mim as
criancinhas" (Marcos 10:13 a 16); "a oração no jardim"(Mateus
26:36-46); a negação de Pedro (Mateus 26:69-70), só para citar algumas.
Esses "homens comuns" tinham
suas famílias, viviam os problemas de sua época e, certamente, muitos dramas
íntimos quando abraçaram a missão de acompanhar o Cristo.
Jesus frequentemente chamava um ou outro
para transmitir recomendações particulares, ora consolando, ora orientando,
além de suas pregações reservadas aos apóstolos ou públicas. Foi num desses
momentos, narrado por Humberto de Campos, que o Mestre se dirige a Bartolomeu.
Embora a escassez de informações sobre
este apóstolo, Humberto de Campos conta que ele "foi um dos mais dedicados
discípulos do Cristo, desde os primeiros tempos de suas pregações, junto ao
Tiberíades", e que "todas as suas possibilidades eram empregadas em
acompanhar o Mestre, na sua tarefa divina". Nesse relato, Jesus lhe ouve
sobre por que motivos muitas vezes meditava triste e dolorosamente.
Impressiona o que Bartolomeu expõe ao
Mestre, que nos traz à nossa realidade: "quando esclarecestes que o vosso
reino não é deste mundo, experimentei uma nova coragem para atravessar as misérias
do caminho da Terra, pois, aqui, o selo do mal parece obscurecer as coisas mais
puras!... Por toda parte, é a vitória do crime, o jogo das ambições, a colheita
dos desenganos!...". Relata ainda a perda da mãe, havia pouco tempo, e as
dificuldades com os comerciantes com quem negociava.
Então Jesus lhe acende o ânimo, como
sempre o fez a outros, apesar de em muitos momentos ter recorrido a críticas
disciplinadoras; reafirma que seu reino não é deste mundo, mas também que um
dia esse reino será estendido aos corações da Terra, onde o Evangelho
florescerá no espírito dos povos depois de florescer na alma das criaturas; que
a morte do corpo abre as portas de um mundo novo para a alma e que o melhor
negócio do mundo é a iluminação definitiva da alma para Deus.
Conforme este relato, Bartolomeu, ao
voltar para casa transformado, mais tolerante, ouviu ofensas de seus irmãos e
se lembrou de que só ele tinha alegrias a lhes dar. Do pai, ouviu igualmente
impropérios. Mas ele conhecia Jesus e seu pai não. No trabalho teve palavras
boas com os companheiros e com os comerciantes, e essa mudança de atitudes lhe
trouxe mais harmonia, mais paz. Aprendera a converter em alegria a
incompreensão, as adversidades e a tristeza.
Nos contratempos que se nos apresentam,
que muitas vezes nem são tão grandes assim, lembremo-nos de Jesus, de sua
tarefa gigantesca, das muitas dificuldades e incompreensão que colheu entre os
homens na Terra e da sua mensagem de bom ânimo, porque "todo discípulo do
Evangelho tem que ser um semeador de paz e alegria".
FONTE
E AUTORIA
Gisela
Alexandre Levatti é geóloga, responsável pelo GEDE – Grupos de Estudo da
Doutrina Espírita do Centro Espírita União, em São Paulo, SP.