Cultura é a herança social de um povo. É o conhecimento que um
determinado grupo acumulou, e está acumulando, à medida que enfrentou e
enfrenta situações, dificuldades, desafios. Essa herança é mantida
através dos valores, dos conceitos, da mentalidade das pessoas, que, em
constante mudança, fazem adaptações que atendem às necessidades do
grupo.
A religião é um segmento particular dessa cultura. Os conhecimentos
construídos através das experiências e vivências da pessoa, e do grupo
ao qual pertence, quando enfrenta questões básicas como o significado do
sofrimento, da dor, do Universo, da existência, da vida, de Deus,
determinam um conjunto que é chamado de religião. Portanto, as diversas
correntes religiosas que existiram, e as existentes, refletem diferentes
necessidades, diferentes escolhas de questões prioritárias, diferentes
interpretações, diferentes respostas, diferentes atitudes e
comportamentos.
As respostas não são dadas, mas construídas pela pessoa ao enfrentar
as situações que a sua trajetória de vida apresenta. A visão religiosa
é, portanto, uma ferramenta que facilita a construção de respostas.
A visão de Deus, por exemplo, e a relação Dele com os homens, foram se
modificando à medida que o homem foi tendo entendimentos e vivências que
permitiram novas interpretações.
Para a Doutrina espírita, a interpretação religiosa resulta da soma
do conhecimento de várias pessoas, encarnadas e desencarnadas, que
superam os seus entendimentos anteriores, propiciando respostas que
sejam aperfeiçoadas, ampliadas e sustentem um comportamento
diferenciado. A interpretação não é definitiva, acabada, absoluta. É
aberta, permitindo que novas sínteses sejam realizadas à medida que o
conhecimento das pessoas envolvidas se amplie. A religião espírita,
portanto, não tem dogmas, não tem posições a serem defendidas com o
sacrifício da razão, da compreensão. A Doutrina não pede que se sustente
o que não se entende pois essa atitude não resultará em ato consciente e
responsável.
A religião espírita não é a religião do maravilhoso, do sobrenatural,
do mágico, do oculto, do mistério, pois “toda a sua extensão é
alcançável através do conhecimento” (A. Grimm).
Na visão espírita, a interpretação religiosa não está isolada de outros
segmentos de entendimento humano, como a ciência e a filosofia. A
ciência, a filosofia e a religião são interdependentes e se completam,
resultando em um quadro muito mais amplo de entendimento do ser humano e
da vida do que cada uma delas consideradas isoladamente.
Para a Doutrina, a religião não necessita de templos, de cultos, de
cerimônias, de rituais, de fórmulas, de prescrições, de sacrifícios, de
promessas, de sacramentos. Ser religioso, para a Doutrina, não é
pertencer a uma igreja, a uma instituição formal. Não há necessidade de
sacerdotes; não há intermediários na ligação entre pessoa, creatura, e o
seu Creador, Deus.
O Espiritismo não vincula à religião os conceitos de salvação, de
culpa, de castigo, de pecado, mas sim aos de consciência,
responsabilidade, avaliação crítica dos atos praticados.
A religião espírita é uma religião interior. É transformação individual;
é intensa e extensa modificação de comportamento da pessoa segundo
valores que ampliam a consciência de sua unidade com o Creador.
A Doutrina espírita afirma a sua singularidade na fé como sendo
“sempre a razão através do conhecimento” (L.J.Correia); na esperança,
como empenho de construir melhor o futuro; na prece, como exercício de
identidade com o Creador; na dor, como reflexão para mudanças; no
livre-arbítrio, como fundamental para a evolução; na evolução, como o
significado da vida; na moral, como defesa da vida; na morte, apenas
como transição entre o polissistema material e o polissistema
espiritual; em Jesus, como exemplo, referencial maior para o cotidiano;
em Deus, como “a unidade que se revela todos os dias quando nos
procuramos” (A. Grimm); na Religião, como comportamento sempre em
transformação.
O Espiritismo é a religião da compreensão alcançada, do entendimento
construído, dos valores vivenciados, da modificação consciente do
comportamento através do conhecimento renovado de si mesmo, do
conhecimento renovado do significado e da unidade da vida, do
conhecimento renovado da identidade com o Creador.
A postura do religioso espírita é a que faz “…reflexão sobre a realidade
em que se vive para alcançar o conceitual da sua origem, da
significação do espiritual, da natureza, do semelhante, da finalidade
evolutiva da vida, do exemplo sublime e benevolente de Cristo, da
grandeza, da bondade, da justiça de Deus.” (Marina Fidelis)
O religioso espírita é o que sustenta pensamento, linguagem,
comportamento, que o aproximam, cada vez mais, do agenciar
conscientemente a organização, o ordenamento, a harmonia, a estruturação
inteligente do Universo.
(Preparado para o Encontro de Coordenadores dos Grupos de Exercício Mediúnico da SBEE sobre Religião espírita)
Blog Espírita
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