Eu até pretendia escrever alguma coisa sobre o tema.
Mas, como disse em anos anteriores, basta copiar os artigos passados, pois nada
mudou com relação a data que é apenas mais uma data comercial, assim como o Dia
das Mães e tantas outras. Ouvimos mensagens melosas, grandes elogios, exaltação
das conquistas do sexo frágil ao longo dos anos, desde que um grupo de mulheres
se rebelou e começou a luta pela igualdade social, política etc e tal...
Mas,
lendo o texto da jornalista Giovanna Tavares (iG São
Paulo), publicado no delas.ig.com.br, decidi
compartilhar com a meia dúzia de leitores do Espaço Livre e do Cristovamaguiar.com.br.
“A história se repete todo ano. No Dia
Internacional da Mulher, comemorado em 8 de março, a oferta de bombons, rosas
vermelhas, perfumes e outros presentes considerados “femininos” aumenta
consideravelmente. Porém, mais do que uma data comercial, o Dia Internacional
da Mulher nasceu como um protesto contra a opressão feminina, proposto em 1910
por Clara Zétkin e Rosa de Luxemburgo, na 2ª Conferência Internacional de
Mulheres Socialistas, em Copenhague.
“A data representa a luta das mulheres por
igualdade social, política e no mercado de trabalho, mas acabou sendo
comercializada e banalizada. Muitas vezes, as propagandas veiculadas nesse dia
acabam sendo extremamente depreciativas e abafam a discussão da desigualdade de
gêneros”, atenta Lourdes Bandeira, socióloga da Universidade de Brasília e
Secretária-Executiva da Secretaria de Política para as Mulheres.
Gentileza ou
machismo?
A linha que separa o que é gentil do que
é machista nas homenagens no Dia Internacional da Mulher se torna tênue à
medida em que muitas das mensagens e presentes direcionados às mulheres acabam
reforçando estereótipos ou comemorando uma situação de igualdade e
empoderamento que, na realidade, ainda não existe por completo.
“A gentileza, a delicadeza e a
generosidade podem acontecer a qualquer momento, não necessariamente dia 8 de
março e não só para as mulheres, mas isso não pode tomar o lugar da discussão
de que ainda temos muitas reivindicações pela frente. Não são atos negativos,
exceto quando nos discriminam e reforçam um padrão único de mulher”, completa
Lourdes Bandeira.
Exemplos de discriminação e sugestões de
presentes que passam longe da gentileza são, por exemplo, as homenagens que
tentam enaltecer qualidades tidas como obrigatoriamente femininas: delicadeza,
esmero, beleza, fragilidade, vaidade, entre outras, que acabam padronizando as
mulheres dentro de um ideal que precisa ser quebrado.
“Mesmo sem maldade, a pessoa pode acabar
contribuindo para esvaziar o sentido da data. É importante retomar a
importância da luta pelos nossos direitos, justamente para conscientizar as
pessoas de que ela não existe para dar flores e presentes, nem para homenagear
a beleza e a feminilidade”, acredita Aline Valek, escritora e feminista.
Rosas, chocolates e perfumes, por
exemplo, são apenas presentes e não precisam ser encarados como atitudes
machistas, mas não estão isentos da culpa. “Na verdade, o presente é um ato
inconsequente. Não vou recusar rosas e chocolates, mas a questão é que sempre
caem no clichê de nos parabenizar por sermos mulheres. Nas propagandas, a nossa
luta se resume a encontrar a chave no meio da bolsa, a suportar a TPM e andar
de salto alto”, afirma Lola Aronovich.
No fundo, os presentes e homenagens
carregam uma intenção subjetiva. “Ao dar uma escova de cabelos, por exemplo,
você está colocando a mulher em um estereótipo: a mulher feminina precisa ter o
cabelo bem cuidado”, ilustra Lourdes Bandeira. Segundo ela, vale ainda outro
exemplo, o de presentear a mulher com eletrodomésticos. “Remete ao estereótipo
da dona de casa”, completa. Fica ainda pior quando a tentativa das propagandas
ou mensagens é colocar a mulher no papel de heroína: mesmo sendo bem-sucedida
profissionalmente, ela não deve “deixar de lado os cuidados com a casa, família
e beleza”.
Celebrar e lutar
Aos poucos, alguns aspectos da
desigualdade entre mulheres e homens vão sendo desconstruídos para dar lugar a
uma sociedade com mais oportunidades e direitos iguais. O Dia Internacional da
Mulher representa a luta por essa desconstrução, que não acontece em apenas um
dia do ano, e sim ao longo dele. É uma data para recordar que ainda existe um longo
caminho pela frente, mas também para celebrar as conquistas adquiridas até
então.
Embora existam conquistas e avanços para
comemorar, muitas coisas ainda precisam mudar para que o 8 de março seja,
exclusivamente, um dia de celebração. Uma delas, de extrema urgência, é o
feminicídio – pelo menos 15 mulheres são mortas por dia no Brasil vítimas de
companheiros ou ex-companheiros, de acordo com os dados do Instituto de
Pesquisa Econômica Aplica.
“Ainda estamos numa situação péssima,
ganhamos salários inferiores em relação aos homens, na mesma profissão e com o
mesmo grau de escolaridade, fora outras situações de desigualdade. Por isso, é
importante que seja um dia de reivindicações, para exigir que nossos direitos
sejam respeitados”, ressalta Lola Aronovich, professora universitária e
ativista feminista.
“Nós precisamos discutir todos os dias a
violência, a diferença salarial, por que a mídia ainda nos estereotipa, porque
a sensualização e a objetificação sempre nos atinge e nos desqualifica. Nesse
dia, discussão deve ter ainda mais força”, alerta Lourdes Bandeira. O que
percebo, felizmente, é que está havendo uma melhora, independente da condição
socioeconômica das mulheres. Elas estão se engajando cada vez mais para
derrubar essa cultura completamente desqualificadora”, completa”.
Eu ainda acrescento que a
responsabilidade dupla das mulheres acaba fazendo com que elas se insiram de
forma mais precária no mercado de trabalho. Elas não entram em condições de
igualdade com os homens e também não são remuneradas por conta de cuidados com
os filhos, o marido, a casa, com as pessoas doentes e, muitas vezes, com
trabalho comunitário. As exceções ficam por conta daquelas que abrem mão de ser
esposa e mãe. Por mais que queiramos, não temos uma varinha mágica que nos permita
executar 100% as duas tarefas. Acabamos por negligenciar uma ou outra.
Todo
fenômeno de dominação e opressão só ocorre porque aqueles que têm um papel
subalterno assumem valores do grupo dominante. Muitas mulheres contribuem para
a reprodução dessa cultura machista, ainda que sofram fortemente suas
consequências. Os homens, mesmo os que se declaram a favor dos direitos
iguais, nunca vão aceitar ter os mesmos deveres. Aceitam que suas mulheres
saiam para trabalhar, mas, querem chegar em casa e encontrar suas refeições
preparadas, casa limpa e arrumada, filhos bem cuidados e uma mulher perfumada
para lhe dar amor. Daí as mulheres só têm dois caminhos: Ou assumem a chefia da
casa e perdem o companheiro e, muitas vezes, os filhos, ou aceitam a dupla jornada
e a inserção precária no mercado de trabalho e mantém sua família.
Mulheres, reflitam, lutem! Homens,
querem ser gentis? Vocês têm 365 dias no ano para fazer isso, não apenas o dia
8 de março.
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