Hoje estava lendo um artigo de Bruno Astuto, na revista Época, intitulado "Se você ama, por que não diz?". Dai me lembrei de um artigo que escrevi "O Amor Verdadeiro" e um outro baseado em Arnaldo Jabor "Fome de Amor". Ambos falam da vergonha que as pessoas têm de demonstrar seus sentimentos, de parecerem ridículas se mostrarem que são românticas. Se disserem eu te amo quer seja para o companheiro (a) ou para os pais, filhos, irmãos, amigos. Muitas pessoas agem dessa forma devido a educação que tiveram, o meio em que vivem.
Bruno Astuto conta que tem uma amiga que se orgulhava de, em 23 anos de casamento, nunca ter dito “eu te amo” para o marido. Batia no peito como uma vencedora, como o lado vitorioso de um eterno jogo de sedução, em que apenas uma parte cede, e outra capitula. Sua estratégia, garante, deixou-o sempre apaixonado, “no cabresto”. - No fim do ano passado o marido teve um ataque cardíaco fulminante e não resistiu. A mulher não teve tempo de se despedir, nem mesmo de tentar salvá-lo. O golpe lhe foi fatal; ela o adorava, mas não a ponto de lhe contar que o amava.
Bruno Astuto conta que pediu à viúva que o deixasse publicar seu relato. Ela concordou, porque achava importante dividir com as pessoas a maior dúvida que lhe restou dessa terrível experiência: será que é realmente necessário economizar belas palavras? Por que temos vergonha de dizer que amamos alguém? Ele relata a experiência da mulher, que esta arrependida de nunca ter dito ao marido o quanto o amava. Existe muitas destas viúvas nos dias de hoje.
Eu pergunto: há algum problema em nos mostrarmos frágeis de vez em quando? Estou com o Bruno Astuto quando diz que "num mundo sem toques, olhares e os sons das vozes, de carinhos vazios de Twitter e Face book, o grande desafio do ser humano é ir além do “cutuco” das redes sociais. Sair do seu casulo, enfrentar o trânsito, procurar a pessoa e dizer, sem medo, o que sente. Essa geração que começou quando a AIDS, aprendeu que é preciso se distanciar para não se envolver. Para ela, o futuro dos Jetsons chegou de fato — não em termos dos carros voadores, mas dos capacetes invisíveis que protegem do contato físico e mantêm as emoções enclausuradas numa sinistra assepsia".
É por isso que eu não me importo com os olhares atravessados ou algumas piadinhas quando eu e meu marido andamos nas ruas de mãos dadas, trocamos beijos e abraços em locais públicos, dizemos eu te amo a qualquer hora ou em qualquer lugar, quando sentimos vontade. Já ouvi pessoas dizerem: Não são casados, por que ficam se beijando no bar? É ridículo um casal com uma convivência de 32 anos andar de mãos dadas, dizer eu te amo e trocar um beijo em público. Bonito mesmo são adolescentes e jovens que se encontram a primeira vez e se pegam em qualquer lugar e partem rapidinho para os "finalmentes", para em seguida se separarem e dizerem "só ficamos".
Ridículo mesmo é ter vergonha de demonstrar os sentimentos uns para os outros. Ou viver de aparências. Quando flui naturalmente, quando ha um sentimento verdadeiro, não tem que ter lugar nem hora para mostrar, não para os outros, mas, para nós mesmos, para reafirmarmos estes sentimentos. É maravilhoso sermos ridículos porque cantamos, dançamos, tomamos banho de chuva, rimos das piadas ou estórias que já ouvimos o companheiro contar centenas de vezes. Porque demonstramos e falamos o que sentimos.
Como dizia Cazuza, é preciso dizer que te amo, antes que seja tarde demais.
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