domingo, 15 de abril de 2012

Como fabricar adolescentes problemáticos

O mundo em que vivemos já traz uma série de angústias às crianças. Na intenção de protegê-las, pais, mães e avós falam sobre sequestro e explicam o que é violência já nos primeiros anos de vida. Não bastasse terem de conviver em uma realidade suficientemente complexa, nós (adultos) sabemos como piorar suas vidas.

Heidi Hankins, de apenas 4 anos, lê livros e desenha como uma criança de 7 anos. Seu Q.I (quociente de inteligência) é de 159, apenas um ponto a menos que Albert Einstein. Seus pais, orgulhosos, a incluíram no Mensa, uma organização internacional que integra os 2% mais inteligentes da população e exigiram da escola infantil que adiante a menina em dois ou três anos.

Heidi quer mais livros para ler, desafios de matemática para resolver, mas deseja ser tratada como uma criança normal, imagino. Destacá-la do grupo, ao meu ver, é um constrangimento desnecessário, uma violência ao seu direito de ser diferente. Não é difícil imaginar que, ao lado de colegas mais velhos, será o foco das atenções – e isso não costuma ser saudável. Até que me provem o contrário, uma criança de quatro anos superdotada deve conviver com crianças da mesma idade. Por mais que ela seja desenvolvida intelectualmente, experimente colocá-la diante de uma criança de sete anos. Há diferença no tamanho, no diálogo, nos desejos, nas brincadeiras.
Menina de 4 anos desfila com joias em um evento de beleza em Londres
O que dizer de uma criança de quatro anos vestida de periguete em uma passarela, com a mãe histérica gritando ao fundo?  Na Inglaterra, a moda são os concursos de beleza baby. Mães orgulhosas vestem suas meninas com vestidos bufantes, contornam aquelas boquinhas minúsculas com batom vermelho e ainda investem em calçados de salto para pés tamanho 23. Se alguém acredita que isso pode fazer bem a uma criança, me explique como.

A gente planta agora para colher lá na frente, dizia a minha avó. E poupar a criança das nossas neuroses, daquilo que não fomos e gostaríamos que elas fossem, é o melhor que podemos fazer.



Por Luciana Vicária é editora-assistente de ÉPOCA em São Paulo

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