Hoje é o Dia do Sexo
Desde
há cinco anos, uma promoção publicitária sobre preservativo genital aproveitou
a data de hoje (06/09, facilmente associada ao famigerado “69”) para criar o
Dia do Sexo.
A
segunda década do III milênio ratifica as transformações da Revolução Sexual
iniciada há meio século que segue em evolução dinâmica.
Idas
e vindas, novidades e reciclagens interagem nessa movimentação, alternando
condutas e ideias novas, modismos e reações conservadoras.
O
Brasil e muitos países latinos têm maioria católica, cujos valores morais
exercem grande influência no comportamento das pessoas e na sociedade em geral.
María
M. Collignon, socióloga e pesquisadora mexicana, investigou os sentimentos de
culpa antes e depois do sexo entre os seus compatriotas. Ela mostrou que os
critérios e conceitos arraigados pela moral religiosa, mesmo em tempos de
liberação sexual, estão longe de permitir que o sexo seja um exercício de
prazer pleno, como seria esperável. Há uma série de crenças relacionadas com o
pudor, o temor e, em muitos casos, uma moral reforçada nas sociedades cristãs.
No estudo mexicano, homens e mulheres jovens não duvidam em assegurar que tudo
mudou, que agora há mais liberdade, mas, depois de suas práticas sexuais,
admitem certo conflito de pudor. “Às vezes me sinto suja”, dizem algumas
mulheres.
A
autora conferiu que o modelo de sexualidade legitimado pelo mexicano médio é o
da regra católica: heterossexualidade, casamento monogâmico e convencional,
objetivando a reprodução.
As
outras possibilidades: homossexualidade, bissexualidade, uniões livres e sexo
casual seguem sendo "castigadas", devido à influência do moralismo
religioso de origem judaico-cristã, desde o “tempo dos conquistadores".
Por
fim, destacou a confusão entre culpa e responsabilidade em que muitos pares se
envolvem, além da falta de estudos sobre o prazer: "No século XX e no que
já foi deste, centramos a discussão no corpo, do prazer falamos muito
pouco".
O
contexto é semelhante em todas as regiões de predomínio católico. Corpos
desnudos e disponíveis não fazem parceria erótica deleitosa. É indispensável a
participação da alma, seja para explorar a liberdade de um encontro casual, sem
culpa e com muita responsabilidade, ou para se vincular em uma relação
duradoura, o que também demanda escolhas e posturas bem responsáveis.
A
exposição facilitada da carne e dos atos íntimos veio a reforçar o caráter
imoral da sexualidade. O pecado ficou mais comum, menos escondido, o crime está
mais leve, exercita-se à vista de todos, mas o sexo continua imoral.
A
faxina sexual completa, a limpeza que vai esgotar esse caráter corrompido,
depende da nossa evolução ética e amorosa. O prazer erótico não carece de
explicitação. Sexo explícito pode ser eventualmente excitante, agradável, mas à
medida que for se libertando da conotação imoral, talvez ficasse cada vez menos
atraente.
O
erotismo com sutileza sensual convoca toda a potencialidade sexual dos pares.
Eles criam, sofisticam, contemplam alma e corpo e enlevam-se ao prazer
exponencial.
Agora,
neste ponto da nossa evolução, na oportunidade de se dedicar uma data ao sexo,
teríamos o melhor momento para excluí-lo das memórias dos pecados.
Precisamos liberar verdadeiramente o sexo, mas isso não significa mais prática casual, promiscuidade, orgias ou excessos carnais.
Precisamos liberar verdadeiramente o sexo, mas isso não significa mais prática casual, promiscuidade, orgias ou excessos carnais.
Um
casal que se disponha a aproveitar toda a potencialidade erótica que possui
dificilmente imaginaria, por exemplo, a possibilidade de participar de grupos
sexuais. Cada par empenhado em explorar o corpo em detalhes anatômicos,
experimentando um prazer enorme e extensível, aproveitando todas as sensações
que os órgãos dos sentidos proporcionam, não teria tempo nem espaço de incluir
mais uma pessoa na folia.
Não
se concentrar exclusivamente nas conhecidas zonas erógenas e evitar o sexo que
se limita apenas ao intercurso genital expande o potencial erótico e afetivo
dos pares. Seria pouco interessante compartilhar essas sensações e enlevos com
terceiros.
Não
se trata de crítica ou censura ao sexo grupal, mas incluir outros corpos na
intimidade de um casal aumenta a oferta de superfícies em exposição, sugerindo
oportunidades exibicionistas e voyeuristas, despersonalização dos
participantes, competição homorrival, banalização e vulgarização do sexo. Se, mesmo
com tudo isso, fosse possível manter um bom nível de prazer, valeria arriscar.
Joaquim Motta – Correio Popular
Joaquim Motta – Correio Popular
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