sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Dia do Sexo?

Já disse em outras oportunidades que não me atenho a essa coisa de um dia para comemorar o que quer seja. Dia dos Pais, das Mães, Namorados, Crianças, etc.... Agora inventaram Dia do Sexo. Para não dizer que não falei das flores, vai aqui dois textos interessantes sobre o assunto.



Hoje é o Dia do Sexo

Desde há cinco anos, uma promoção publicitária sobre preservativo genital aproveitou a data de hoje (06/09, facilmente associada ao famigerado “69”) para criar o Dia do Sexo.
A segunda década do III milênio ratifica as transformações da Revolução Sexual iniciada há meio século que segue em evolução dinâmica.
Idas e vindas, novidades e reciclagens interagem nessa movimentação, alternando condutas e ideias novas, modismos e reações conservadoras.
O Brasil e muitos países latinos têm maioria católica, cujos valores morais exercem grande influência no comportamento das pessoas e na sociedade em geral.
María M. Collignon, socióloga e pesquisadora mexicana, investigou os sentimentos de culpa antes e depois do sexo entre os seus compatriotas. Ela mostrou que os critérios e conceitos arraigados pela moral religiosa, mesmo em tempos de liberação sexual, estão longe de permitir que o sexo seja um exercício de prazer pleno, como seria esperável. Há uma série de crenças relacionadas com o pudor, o temor e, em muitos casos, uma moral reforçada nas sociedades cristãs. No estudo mexicano, homens e mulheres jovens não duvidam em assegurar que tudo mudou, que agora há mais liberdade, mas, depois de suas práticas sexuais, admitem certo conflito de pudor. “Às vezes me sinto suja”, dizem algumas mulheres.
A autora conferiu que o modelo de sexualidade legitimado pelo mexicano médio é o da regra católica: heterossexualidade, casamento monogâmico e convencional, objetivando a reprodução.
As outras possibilidades: homossexualidade, bissexualidade, uniões livres e sexo casual seguem sendo "castigadas", devido à influência do moralismo religioso de origem judaico-cristã, desde o “tempo dos conquistadores".
Por fim, destacou a confusão entre culpa e responsabilidade em que muitos pares se envolvem, além da falta de estudos sobre o prazer: "No século XX e no que já foi deste, centramos a discussão no corpo, do prazer falamos muito pouco".
O contexto é semelhante em todas as regiões de predomínio católico. Corpos desnudos e disponíveis não fazem parceria erótica deleitosa. É indispensável a participação da alma, seja para explorar a liberdade de um encontro casual, sem culpa e com muita responsabilidade, ou para se vincular em uma relação duradoura, o que também demanda escolhas e posturas bem responsáveis.
A exposição facilitada da carne e dos atos íntimos veio a reforçar o caráter imoral da sexualidade. O pecado ficou mais comum, menos escondido, o crime está mais leve, exercita-se à vista de todos, mas o sexo continua imoral.
A faxina sexual completa, a limpeza que vai esgotar esse caráter corrompido, depende da nossa evolução ética e amorosa. O prazer erótico não carece de explicitação. Sexo explícito pode ser eventualmente excitante, agradável, mas à medida que for se libertando da conotação imoral, talvez ficasse cada vez menos atraente.
O erotismo com sutileza sensual convoca toda a potencialidade sexual dos pares. Eles criam, sofisticam, contemplam alma e corpo e enlevam-se ao prazer exponencial.
Agora, neste ponto da nossa evolução, na oportunidade de se dedicar uma data ao sexo, teríamos o melhor momento para excluí-lo das memórias dos pecados.
Precisamos liberar verdadeiramente o sexo, mas isso não significa mais prática casual, promiscuidade, orgias ou excessos carnais.
Um casal que se disponha a aproveitar toda a potencialidade erótica que possui dificilmente imaginaria, por exemplo, a possibilidade de participar de grupos sexuais. Cada par empenhado em explorar o corpo em detalhes anatômicos, experimentando um prazer enorme e extensível, aproveitando todas as sensações que os órgãos dos sentidos proporcionam, não teria tempo nem espaço de incluir mais uma pessoa na folia.
Não se concentrar exclusivamente nas conhecidas zonas erógenas e evitar o sexo que se limita apenas ao intercurso genital expande o potencial erótico e afetivo dos pares. Seria pouco interessante compartilhar essas sensações e enlevos com terceiros.
Não se trata de crítica ou censura ao sexo grupal, mas incluir outros corpos na intimidade de um casal aumenta a oferta de superfícies em exposição, sugerindo oportunidades exibicionistas e voyeuristas, despersonalização dos participantes, competição homorrival, banalização e vulgarização do sexo. Se, mesmo com tudo isso, fosse possível manter um bom nível de prazer, valeria arriscar.
Joaquim Motta – Correio Popular

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