“Tomai sobre vós o meu
jugo, e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e
achareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o
meu fardo é leve.” Jesus (Mateus, 11:29-30.)
Início dos anos
cinquenta do século passado. Mediana cidade do Triângulo Mineiro. Ruas
de ladeiras variadas, calçadas de paralelepípedos. Uma carroça
transporta pesadas vigotas, rua acima. Sobre a carga, já de si enorme,
ia o condutor a fustigar o cavalo, que fraquejava no aclive acentuado e
escorregadio.
Após ingentes esforços, o pobre animal para, a
bufar, incapaz de prosseguir a marcha, embora os gritos e reiterados
açoites do carroceiro, jovem ignorante e impiedoso. Furioso, desceu da
carroça, redobrando xingamentos e chicotadas vigorosas! Também ele uma
alimária, embora de outra espécie (racional?), mas, na verdade, cruel,
inclemente!
Por sorte, passava por ali outro jovem. Só que este
sensato. E – inspirado em Francisco de Assis, pleno de compaixão –, usou
de misericórdia para com ambos, cavalo e condutor.
Com humildade, propôs ao carroceiro:
– Posso ajudá-lo? Empurro a carroça e você puxa o cavalo.
– Esse desgraçado ‘tá’ com moleza! Não levanta porque é manhoso!
– Ele está cansado. Vamos ajudá-lo, que ele dá conta de subir.
– ‘Tá’ certo. Pode empurrar.
Mas o cavalo não aceitou nem a presença do condutor, recusando-se a segui-lo, seja pelo cansaço, seja por antipatia.
–
Espera um pouco, uns cinco minutos. Está muito cansado. E vamos
inverter as posições: você empurra a carroça e eu guio o cavalo.
Proposta
aceita a contragosto, nosso personagem pôs-se a conversar com o animal,
ainda muito assustado. Com serenidade e palavras amorosas ganhou-lhe a
confiança, acariciando-lhe a crina, enquanto, aos poucos, descansava.
Disse-lhe, em tom de voz amigável: – São Francisco vai te ajudar, meu
amigo!
Impaciente, o outro propunha retomar a caminhada. Nosso
amigo, sob o amparo de Francisco de Assis, e a força moral que a
humildade e a paciência lhe favoreciam, respondeu-lhe: – Espera mais um
pouco, um minutinho só! Ele subirá com a carga.
Passado tempo
razoável, o companheiro convidou o cavalo a se levantar, dizendo-lhe com
carinho: – Nós vamos ajudá-lo. Vem comigo!
O bichinho atendeu ao
chamado, trôpego a princípio, mas, firmando-se, venceu a íngreme
ladeira até a esquina próxima, onde a rua transversal amenizava a
subida, em busca do destino visado.
Neste ponto, nosso amigo
despediu-se de ambos, com palavras amistosas para um e de bons conselhos
para o outro, para que experimentasse a paciência sempre com seu
companheiro de trabalho, que o ajudava a ganhar o pão de cada dia.
*
O fato singelo, mas real, leva-nos a refletir sobre o convite de Jesus com a promessa do jugo leve!
Perdemos
todos os esforços se desanimamos, quando o fim da prova poderia estar à
vista (quem sabe, na próxima esquina?). Ao seguir, encorajados pelo
auxílio invisível, que não falta, vencemos os aclives do caminho que nos
cabe percorrer, ainda que a passos trôpegos!
Quando nos surgem
sofrimentos, ao invés de nos desesperarmos, indaguemos ao Mestre quais
lições devemos aprender com a Dor, essa Sublime Mensageira!
Amigos
espirituais, em nome dEle, acorrem aos nossos apelos, quando aprendemos
a buscá-lO nas asas da prece, revestida de humildade e confiança!
Agostinho, Espírito – Cap. XXVII, item 23 de O Evangelho segundo o Espiritismo –, afirma-nos:
“(...)
A prece é o orvalho divino que aplaca o calor excessivo das paixões.
Filha primogênita da fé, ela nos encaminha para a senda que conduz a
Deus. No recolhimento e na solidão, estais com Deus”.
Os bons Espíritos, quais samaritanos, não eliminam nossas provas, mas encorajam-nos, inspiram-nos, quando a eles recorremos.
Ainda
que distantes da fé ardente, se cultivamos a prece sincera, buscando
compreender as mensagens que as dores nos trazem, ela cresce, a pouco e
pouco, em nosso íntimo, pelas respostas que nos oferece.
Se
recorremos à oração sinceramente, cumprindo nossos pequeninos deveres, e
buscamos vivenciar as lições do Evangelho, as respostas sempre nos vêm.
E
assim nosso jugo vai se tornando leve, suportável. Indispensável, para
isso, aviar as receitas de amor do Divino Mestre, buscando, por nossa
vez, suavizar provas de outros irmãos de caminhada!
Com paciência
e resignação ativas, reduzimos nossas dores, sem aflição e desespero
dispensáveis, que as reações desequilibradas favorecem.
A dor fustiga, inclemente, mas o “orvalho divino” nos conduz ao jugo leve, prometido por Jesus.
Gebaldo José de Sousa
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