O blog Espaço Livre foi criado com o propósito de compartilhar textos que venham acrescentar algo à vida das pessoas. Alguns escritos por mim, outros copiados, mas sempre identificando a fonte e os autores. Se alguma vez deixar de faze-lo, ou se algum autor se sentir prejudicado, peço que se manifeste para que possa fazer o devido reparo. Meu único propósito é partilhar conhecimento com os irmãos.
terça-feira, 16 de outubro de 2012
O agora: o maior plano das nossas vidas
Afinal, não damos o devido valor ao presente e sua simplicidade? Leia o post da jornalista Claudia Penteado no blog Mulher 7 X 7 - Época
O paraíso é onde estou (Voltaire)
Outro dia fui arrebatada pela coluna de Eliane Brum na
revista Época sobre Joan Didion, a escritora que perdeu numa tacada só
marido e a única filha para a morte, e… “sobrou”. Diante da velhice, foi
tomada por um sentimento de vazio, perguntando-se o que fazer com
tantos planos imaginados para a velhice. Acabou escrevendo um livro
recheado de belas memórias de seus companheiros de vida, chamado “noites
azuis”, e vive o dia-a-dia sem muito entusiasmo, a não ser quando
acessa o passado e desanda a escrever.
Poucos dias depois, entro em um táxi e começo a conversar amenidades
com o motorista, um português há 30 anos no Brasil. Seu projeto mais
ousado naquele momento é conhecer o sul do Brasil, algo que planejou
fazer com a esposa durante 30 anos e não conseguiu realizar. Todas as
férias ela preferia ir a Portugal visitar os parentes do marido e ele
cedia. “Quando seus pais morrerem, vamos para o sul de férias”, dizia a
esposa, com quem o motorista sonhava compartilhar a velhice. Seu pai
morreu, sim, mas poucos meses depois a própria esposa faleceu, perdendo a
batalha de apenas alguns meses para um câncer na face.
“Desde então não faço mais planos. Vivo o dia a dia.”, disse o taxista.
Na mesma noite, ouço a história de uma colega de pós-graduação cuja
mãe sofre de Alzheimer há 10 anos e há dois entrou em estado vegetativo –
antes mesmo de completar 70 anos de vida. Atormentada com a ideia de
que possa um dia vir a desenvolver a doença que tanto maltratou a mãe,
minha colega questionou o médico, que lhe pegou pela mão, os olhos
firmes, e disse: viva intensamente, cada dia da sua vida.
Naquela semana, o tema no grupo de filosofia era Nietzsche e a
importância de potencializar o presente: o que dá sentido à vida é
desejar o eterno retorno do instante. Este “retornar” é o agora. “O
excesso de imaginação em relação ao futuro não leva a nada. Deve-se
viver intensamente o instante, de forma criativa.”, bradou o professor.
Até para se amar alguém, por exemplo, é preciso esquecer. Amar não é uma
rememoração, é um ato. A inteireza desse ato só pode acontecer no
esquecimento. Está tudo lá, escrevinhado no meu caderninho de filosofia.
Aí me deparo com o post do roteirista Marcelo Zorzanelli,
que visita este blog às segundas, que diz: “Viver dominado pelo passado
ou preocupado com o futuro é a fórmula de uma existência ansiosa e
triste, seja no trabalho, na família, no amor”.
A sincronia de acontecimentos me surpreendeu. Encontros e situações
diferentes, a mesma mensagem essencial. Um dia após o outro. Nada de
expectativas, de planos. A fórmula é exatamente o oposto de tudo o que
aprendi com nossos pais e testemunho nessa nossa sociedade ocidental e
capitalista. Minha mãe, filha da guerra, repetiu a vida inteira, como um
mantra, sobre a importância de economizar, fazer planos, nunca me
lançar em nada sem garantias, pensar na velhice, não arriscar, deixar
vários projetos para “depois da aposentadoria”. Trabalhe, trabalhe,
trabalhe. Garanta o seu futuro. OK. Planejar também é bom. Que seria de
nós sem planos, sonhos, projetos, objetivos? Mas o que ocorre é que
muitas vezes vivemos de olho em um futuro que jamais chega a se
concretizar. A vida nos prega peças, afinal. Por que não pensar a
respeito daquilo que se pode fazer agora, hoje, para tornar a vida mais
agradável, ao invés de ficar o tempo todo “projetando o futuro”,
articulando para colher frutos…lá na frente? Por que não tornar o
trabalho que parece chato e esgotado de possibilidades mais interessante
hoje?
Nossa tendência é pensar que tudo depende de uma imensa elaboração
que só resultará em felicidade em algum ponto do futuro. Por que não
estar presente em cada instante da jornada? Pode ser mais simples do que
parece.
Por exemplo: dar uma caminhada matinal pode melhorar o humor de todo
um dia. Dar uma parada para respirar e pensar a respeito do que se está
de fato fazendo – saindo do automatismo e da pressa – pode levar a um
novo jeito de executar algo aparentemente corriqueiro. Ler algumas
páginas de um bom livro durante o dia. Desligar o celular ao dirigir.
Andar pela rua olhando ao redor e não para o chão. Tomar sol. Comer
apreciando e olhando para o que se come. Telefonar para alguém apenas
para dar um alô carinhoso. Dar uma volta no quarteirão à luz da lua só
para sentir a brisa da noite bater no rosto e desalinhar os cabelos.
Andar na chuva.
Tudo isso são pequenos cuidados (carinhos?) que, porque não, podem
garantir mais gotas de satisfação no dia a dia. São coisas que podemos
fazer, mas muitas vezes não fazemos porque “achamos” que não temos
tempo, temos preguiça, ou talvez acreditemos não merecer, mesmo.
Preferimos ser autômatos, em função das próximas férias, da
aposentadoria, do dia em que finalmente daremos aquela virada para
“mudar de vida” e ter um ritmo mais calmo.
Vivemos vidrados nas telas de nossos celulares e iPads para saber
quem nos contactou, qual a próxima missão, o que “estamos perdendo” de
informação, na movimentação frenética do scroll bar do Twitter, do
Pinterest, do Facebook. Enquanto batia a porta do taxi do velho
motorista português, só pensava em mudar alguns dos meus planos para o
futuro e deixá-los, porque não, para o presente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário