O escritor e roteirista Ricardo Hofstetter resolveu folhear uma revista feminina. O resultado é esta crônica publicada em Mulher 7 X 7, de Época.
Ontem
fiz uma coisa que há muitos anos não fazia. Aliás, nem tenho certeza de
já ter feito isso antes: folheei, com atenção, uma revista feminina, da
primeira à última página.
Para começar me assustei com o tamanho. A revista tinha 450 páginas.
Não sabia que revistas femininas podiam chegar a tais extensões. Essa
deve ser a média de páginas dos romances de Dostoiévski. Tudo bem que
90% do material é de fotografia, textos não passam de uma minoria
oprimida. Ainda assim, 450 páginas são 450 páginas.
Outra coisa que chama a atenção é a qualidade da revista: o papel
usado na impressão é excelente, as fotos incríveis, a diagramação
perfeita, o colorido excita, o contato dos dedos com as folhas é
agradável, até o cheiro atrai as narinas.
Outro detalhe interessante: a quantidade de mulheres estonteantemente
lindas (photoshopadas ou não) e em poses extremamente sensuais. A nível
de homem, me senti como um cachorro babando frangos de padaria. O que
será que se passa na cabeça de uma mulher ao ver essa enorme quantidade
de outras mulheres lindas e em poses provocantes? Desejo de ser igual a
elas? Sentimento de inferioridade? Inveja? Vontade de comprar as roupas?
Decorar as poses para usá-las com seus parceiros? Rasgar a revista?
Um dos poucos textos, trazia uma pesquisa sobre o que os homens
gostam no visual das mulheres. Coisas que eu suspeitava se confirmaram,
como o alto índice de aprovação das minissaias e a preferência por
cabelos compridos. O excesso de maquiagem foi criticado e as sapatilhas
venceram o salto alto na preferência deles.
Bom, é isso, a crônica termina aqui. Para quem aguardava críticas à
futilidade da moda, ao consumismo, à exploração sensual da mulher, ao
vazio da beleza exterior, à superficialidade ou ao Photoshop
engana-trouxa fica a justificativa do porquê da palavra anticlímax no
título. A crônica acaba assim, da mesma maneira que um dia a vida acaba:
de repente, sem aviso, sem críticas ou mensagens, como acabou a revista
após o marulhar da última página e esta crônica com o som de sua última
palavra.
NE: Achei a pesquisa deveras interessante. Muitas mulheres sofrem o diabo mas não descem do salto de 20cm. Se é para agradar os homens, tão no caminho errado, segundo a tal pesquisa.
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