Quando nos referimos a perdão, habitualmente mentalizamos o quadro
clássico em que nos vemos à frente de supostos adversários,
distribuindo magnanimidade e benemerência, qual se pudéssemos viver sem a
tolerância alheia.
O assunto, porém, se espraia em ângulos diversos, notadamente naqueles que se reportam ao cotidiano.
Se não soubermos desculpar as faltas dos seres que amamos, e se
não pudermos ser desculpados pelos erros que cometemos diante deles, a
existência em comum seria francamente impraticável, porquanto irritações
e azedumes devidamente somados atingiram quotas suficientes para
infligir a desencarnação prematura a qualquer pessoa.
Precisamos muito mais do perdão, dentro de casa, que na arena
social, e muito mais de apoio recíproco no ambiente em que somos
chamados a servir, que nas avenidas rumorosas do mundo.
Em auxílio a nós mesmos, todos necessitamos cultivar compreensão e
apoio construtivo, no amparo sistemático a familiares e vizinhos,
chefes e subalternos, clientes e associados, respeito constante a vida
particular dos amigos íntimos, tolerância para os entes amados, com
paciência e olvido diante de quaisquer ofensas que assaltem os corações.
Nada de aguardamos sucessos calamitosos, dores públicas e
humilhações na praça, a fim de aparecermos na posição de atores da
benevolência dramatizada, apesar de nossa obrigação de fazer o bem e
esquecer o mal, seja onde for.
Aprendamos a desculpar - mas a desculpar sinceramente, de coração e
memória -, todas as alfinetadas e contratempos, aborrecimentos e
desgostos, no círculo estreito de nossas relações pessoais,
exercitando-nos em bondade real para ser realmente bons.
Tão somente assim, lograremos praticar o perdão que Jesus nos ensinou.
E se o Mestre nos ensinou perdoar setenta vezes sete aos nossos
inimigos, quantas vezes deveremos perdoar aos amigos que nos entretecem a
alegria de viver?
Decerto que o Senhor se fez omisso na questão porque tanto de
nossos companheiros necessitam de nós, quanto nós necessitamos deles, e,
por isso mesmo, de corações entrelaçados no caminho da vida, é
imprescindível reconhecer que, entre os verdadeiros amigos, qualquer
ocorrência será motivo para aprendermos, com segurança, a abençoar e
entender, amar e auxiliar.
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Emmanuel
Chico Xavier
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