quarta-feira, 15 de abril de 2015

O OUTRO É UM ESPELHO

Nem sempre a realidade é como a percebemos. Na antiguidade grega, Esopo – 500 anos A. C – conta a história de um viajante que chegou às portas de Atenas em busca de informações. Pretendia saber como era a população da cidade. Esopo, antes de responder, quis saber como eram os habitantes de sua cidade. Sou de Argos, explicou ele, e lá as pessoas são antipáticas, mesquinhas, invejosas e por isso vim para cá. O sábio disse: infelizmente as pessoas de Atenas também são assim.
MEIA HORA após, outro viajante se apresentou com a mesma pergunta. De onde vens e como são os habitantes de sua aldeia? Sou de Argos, disse o viajante, e lá as pessoas são generosas, serviçais e hospitaleiras. E Esopo disse sorrindo: que bom, pois em Atenas também as pessoas são assim!
O OUTRO é como um espelho e reflete nosso interior. Do mesmo modo como vou ao encontro do outro, ele vem ao meu encontro. Assim como eu o vejo, assim eu sou. Quando eu olho para fora e falo sobre as coisas que me cercam, estou também revelando meu interior e dizendo muitas coisas sobre mim.
A VELHA sabedoria grega já sabia que tudo aquilo que recebemos, recebemos de nosso jeito. O mesmo fato ou a mesma afirmação é percebido à nossa maneira. A inveja, o orgulho, a teimosia que vemos nos outros têm sólidas raízes em nós mesmos. O mesmo vale para a bondade que está dentro de nós e se irradia sobre os demais. O mestre Eckhart constatava: “Quem estiver bem consigo mesmo, estará bem em todos os lugares e com todas as pessoas. Mas quem não estiver bem, não está bem em nenhum lugar e com nenhuma pessoa”.
MUDANDO de Argos para Atenas, a pessoa continua igual. Não será a mudança de lugar que irá alterar nossas deficiências e nossa escala de valores. Mudando de lugar, carregamos conosco nossos defeitos e nossas virtudes. A primeira tentação é mudar as pessoas de Argos, mas isso não vai mudar nada. Nós continuamos os mesmos.
EXISTEM dentro de nosso psiquismo filtros poderosos que, aparentemente, modificam a realidade. E esses filtros funcionam em duas direções: escondendo nossas limitações e exagerando os defeitos dos demais. A sujeira pode estar na janela, nas lentes de nossos óculos ou mesmo em nosso interior. A preocupação de mudar o mundo, que pode ser legítima, precisa começar dentro de nós. Se teu olho for puro, tudo ao teu redor será puro, se teus olhos forem bons, tudo será bom.

+ Itamar Vian
Arcebispo Metropolitano

di.vainfs@ig.com.br

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