Nem sempre a
realidade é como a percebemos. Na antiguidade grega, Esopo – 500 anos A. C –
conta a história de um viajante que chegou às portas de Atenas em busca de
informações. Pretendia saber como era a população da cidade. Esopo, antes de
responder, quis saber como eram os habitantes de sua cidade. Sou de Argos,
explicou ele, e lá as pessoas são antipáticas, mesquinhas, invejosas e por isso
vim para cá. O sábio disse: infelizmente as pessoas de Atenas também são assim.
MEIA HORA após,
outro viajante se apresentou com a mesma pergunta. De onde vens e como são os habitantes
de sua aldeia? Sou de Argos, disse o viajante, e lá as pessoas são generosas,
serviçais e hospitaleiras. E Esopo disse sorrindo: que bom, pois em Atenas
também as pessoas são assim!
O OUTRO é como um
espelho e reflete nosso interior. Do mesmo modo como vou ao encontro do outro,
ele vem ao meu encontro. Assim como eu o vejo, assim eu sou. Quando eu olho
para fora e falo sobre as coisas que me cercam, estou também revelando meu
interior e dizendo muitas coisas sobre mim.
A VELHA sabedoria
grega já sabia que tudo aquilo que recebemos, recebemos de nosso jeito. O mesmo
fato ou a mesma afirmação é percebido à nossa maneira. A inveja, o orgulho, a
teimosia que vemos nos outros têm sólidas raízes em nós mesmos. O mesmo vale
para a bondade que está dentro de nós e se irradia sobre os demais. O mestre
Eckhart constatava: “Quem estiver bem consigo mesmo, estará bem em todos os
lugares e com todas as pessoas. Mas quem não estiver bem, não está bem em
nenhum lugar e com nenhuma pessoa”.
MUDANDO de Argos
para Atenas, a pessoa continua igual. Não será a mudança de lugar que irá
alterar nossas deficiências e nossa escala de valores. Mudando de lugar,
carregamos conosco nossos defeitos e nossas virtudes. A primeira tentação é
mudar as pessoas de Argos, mas isso não vai mudar nada. Nós continuamos os
mesmos.
EXISTEM dentro de
nosso psiquismo filtros poderosos que, aparentemente, modificam a realidade. E
esses filtros funcionam em duas direções: escondendo nossas limitações e
exagerando os defeitos dos demais. A sujeira pode estar na janela, nas lentes
de nossos óculos ou mesmo em nosso interior. A preocupação de mudar o mundo,
que pode ser legítima, precisa começar dentro de nós. Se teu olho for puro,
tudo ao teu redor será puro, se teus olhos forem bons, tudo será bom.
+ Itamar Vian
Arcebispo Metropolitano
di.vainfs@ig.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário