Cristina Helena Sarraf, do http://www.jornaldocem.com.br/
Boa parte do que pensamos, cremos e deixamos que direcione nossa vida, foi aprendido dos valores de outras pessoas e vem de um tempo em que não se sabia o que hoje conhecemos. Isso significa falta de dados novos que precisam ser considerados, enquanto mantemos idéias velhas que já não funcionam mais.
Palavra significativa de nosso tempo, “reciclar” implica em avaliação
do que é útil e funcional que será conservado; do que se pode ser
revisto e acertado para ser mantido e do que não tem mais condição de
uso, perdeu função e razão de ser, devendo ser descartado.
Objetos nunca usados, enchendo gavetas, estão pedindo novos donos ou
lixo, onde poderão virar até outra coisa, pela reciclagem. Eles são
semelhantes a nossa mente, repleta de idéias, lembranças,
posicionamentos, conhecimentos e crenças, que necessitam de revisão.
Já houve o tempo em que se pensava que idéias fossem coisas fixas.
Nessa época, o ser humano caracterizava-se pela rigidez ideológica e de
costumes. Acreditava-se que os pensamentos vinham de Deus, por isso eram
imutáveis. Os poucos que ousaram romper com esse estado de coisas foram
punidos, como aconteceu com Giordano Bruno, Joana D’Arc, Jesus... Mas a
semente da liberdade, por estar plantada dentro dos Espíritos,
germinava e, mais adiante,outros ousaram erguer a cabeça e dizer coisas
diferentes das habituais. Galileu, Colombo, Lutero, por exemplo,
propondo mudanças conceituais, pagaram o preço disso, ao mesmo tempo em
que deixavam em nosso planeta marcas de um novo tempo.
As transformações que se sucederam já são tantas, que hoje mal
podemos acompanhar as novidades tecnológicas, as conquistas científicas,
as criações artísticas, a moda, as edições de novos livros, filmes,
tudo pleno de tal multiplicidade que até parece infinita.
A dificuldade de acompanhar todos os avanços não ocorre apenas porque é
impossível ter acesso a tudo, mas principalmente porque permanecemos
pensando, sentindo e vivendo com idéias, conceitos que também precisam
ser reciclados.
O que eu penso de mim? Quais meus pontos fortes, fracos e médios?
A experiência de ocupar-se consigo, reciclando pensamentos, ajuda a
definir a própria filosofia de vida; os valores significativos para cada
um, independentemente de religião, sociedade, família, amigos e
modismos.
(AUTOCONHECIMENTO)
Diz a questão 919 de O Livro dos Espíritos; “Qual o meio prático mais
eficaz que o tem o homem de se melhorar nesta vida e de resistir atração
do mal? Resposta: Um sábio da Antiguidade vo-lo disse: conhece-te a ti
mesmo”.
O sábio a que se refere a resposta é Sócrates, filosofo grego
considerado um dos precursores do Espiritismo. (O Livro dos Espíritos,
Allan Kardec) (C.H.S)
CONTRASTES
Lado a lado convivem preconceito racial e globalização; medos e naves
espaciais; materialismo nas ciências e a noção de que é Deus quem
decide a vida; crença de que o outro vale mais e individualismo;
descongelamento das geleiras e desperdício de alimentos...
Ainda não estamos conectados conosco mesmos, de modo que o externo e o
interno sejam uma só coisa. Apesar de tanta modernidade, “ainda somos
como os nossos pais”, como diria Belchior, na conhecida musica. Não que
devamos ser como eles, mas, sim, que reciclar pensamentos promove um
ajustamento intimo, diminuindo incoerências, angustias e sofrimento.
Gosto de ser como sou ou venho me escondendo para parecer diferente?
O que tenho feito por mim? Como tenho me cuidado?
Meus atos, sentimentos e reações têm sido examinados, para eu me conhecer e saber lidar comigo?
Qual meu entendimento sobre determinada questão? – independentemente do que pensem outros, seja quem for.
Minha “cabeça” diz frases o tempo todo, mas meu ser sente desse mesmo jeito?
Ou sinto algo e penso outra coisa, por causa das opiniões alheias?
Questionamentos como esses estabelecem o processo da reciclagem,
ajudando-nos a distinguir como pensamos e o que deve ser feito em
relação a isso, caso seja preciso mudar algo, e queiramos fazê-lo.
Há quem imagine que analisar-se provoca depressão e desanimo. Mas não
é preciso que aconteça dessa maneira, ate porque o objetivo não é ver
quem está certo ou errado. Reciclar pensamentos é estritamente pessoal;
;levam em conta em primeiro lugar, nossas idéias e formas de ser forma
aprendidas com pessoas que não tinham as informações que temos hoje e
que a repetição memorizada dos costumes familiares obscurece a percepção
sobre a qualidade e funcionalidade dos mesmos.
*CRISTINA HELENA SARRAF é educadora, palestrante e ministra cursos
baseados nos Princípios do Espiritismo. Edita o jornal do Grupo Espírita
de Iniciativas Doutrinarias, CEM, grupo fundado por ela há 24 anos
(www.geocities.com/jornalcem)
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