Gisela Campos
Nesta terca-feira esbarrei por acaso em uma realidade paralela. Bem que um amigo uma vez tinha me avisado: “existem três mundos: o mundo dos homens, o mundo das mulheres e o mundo dos dois juntos!”.
Pois na última terca-feira derrapei para o mundo dos homens. Logo cedo, enquanto esperava o inicio de uma reunião, fui fazer hora tomando um café com um cliente amigo com quem já trabalho há algum tempo. Tempo este que nos permitiria confidências nas quais mergulhou meu cliente: “não sei mais o que fazer: tudo que eu faço parece errado pra minha mulher.” E continuou: “basta eu entrar pela porta que começo a ouvir criticas: não ajudo a dar banho nas crianças, não propus jantar fora sábado a noite, não levei ela pra Itália como meu cunhado fez com a irmã dela, não lembrei da reunião de pais, não fiz dieta durante a semana, enfim…, acho que eu faço tudo errado!”
Confesso que olhei penalizada para meu amigo. O ar perdido, a barriguinha de quem realmente não faz dieta durante a semana, o café na mão e o desalento me davam vontade de consolá-lo: “não liga, não, as mulheres reclamam mesmo…” Mas ele mal me ouvia e falava quase sozinho: “preciso me esforçar mais!”. Juro que me deu pena. Mas nos chamaram para a reunião e o assunto morreu ali. Na volta pro escritório, entro num taxi. O celular do motorista começa a tocar. Ele não atende. Toca de novo. Ele não atende. Toca de novo.
Eu não me controlo: “Não seria melhor atender?”.
Ele: “Nada! Isso e minha mulher procurando briga! Ela passa o dia me ligando pra ver o que que eu tou fazendo de errado!”.
Repliquei brincando que “algum motivo ela deve ter pra ficar na tua cola desse jeito!”
Foi aí que ele desmontou: “Olha, vou lhe dizer uma coisa: eu passo 12 horas do meu dia nesse taxi pra voltar pra casa e ouvir essa mulher me encher a cabeça: tudo que eu faço ta errado pra ela!”
Fiquei muda no banco de trás. E ele continuou: “tudo ela bota defeito, nunca nada ta bom”. Foi quase automático lembrar da conversa com meu cliente, mais cedo.
Cheguei ao escritório desejando paciência para o motorista. Quando já tinha quase esquecido o assunto, fui almoçar com uma amiga que, ao se sentar na mesa, começa: “meu namorado me disse que sou muito critica! Eu? Critica? Você me acha muito critica?”
A terca-feira passou pelo Brasil, cumprindo seu destino: à noite voltaram para suas casas meu cliente, o motorista de taxi, minha amiga e o namorado dela. Não imagino como tenham amanhecido a quarta-feira, mas neste domingão fica a pergunta: por que somos tão criticas? O que queremos dos homens? Afinal, o que procuramos: um companheiro ou um “funcionário”? Ainda sonhamos com o príncipe encantado no lugar do homem de carne e osso, cheio de defeitos?
Dá-me a impressão de que o sonho do príncipe encantado perfeitinho, sem erros, que joga o lixo fora, dá banho nas crianças e ainda nos leva para a Itália continua dentro de nos, em pleno novo milênio, mais forte do que pensamos. Será isto?
Aguardo comentários e desejo a todos um domingo mais leve, mais tolerante e, se tudo correr bem, menos crítico.
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