Para Luisa, Maria e Sofia
Mais um dia de comemoração que chega sem alarde e sem o apelo comercial: "Dia dos Avós"! Li algumas mensagens na internet e fiquei pensando em como as coisas mudaram! Pensei nas minhas avós, aparentando muito mais idade, comum naquela época, seus cabelos brancos, como toda avó que se prezasse. Uma eu se quer lembro a fisionomia, pois desencarnou quando eu ainda era muito pequena. A outra partiu desta vida quando eu era adolescente. Mas, lembro-me bem de como ela era. Havia ficado cega, mas, enxergava muito mais do que quem tinha dois olhos perfeitos. Convivi pouco com elas, pois moravam na roça e não tínhamos as facilidades de transporte de hoje. Mas, o suficiente para poder fazer uma comparação.
A figura da avó não é mais daquela mulher que descansa numa cadeira de balanço, faz crochê ou prepara bolinhos à tarde. Elas são mamães duas vezes, são a voz da experiência, algumas cozinheiras de mão cheias. Muitas ajudam na educação dos netos, cuidam deles na ausência dos pais e fazem de tudo para se aproximar e dar carinho. Elas agora são modernas, mergulham nas ondas da internet, respondem e-mail, entram em redes sociais como o Facebook, se relacionam com outros avós ou mesmo se utilizam desta ferramenta para trabalhar e ganhar o sustento, como é no nosso caso.
Alguns avós têm o privilégio de ter netos por perto dando e recebendo carinho. Ensinando e aprendendo com eles. Eu não tenho esta sorte, pelo menos por enquanto, minhas três netinhas estão a quilômetros de distância. Assim, como não posso abraça-las e falar das minhas experiências, vou transcrever aqui um texto, do qual desconheço o autor, que transmite exatamente os meus sentimentos neste momento. "Testamento de uma avó".
"Quero lhes dizer, queridos netos, o que vale a pena.
- Vale a pena crescer e estudar.
- Vale a pena conhecer pessoas, ter namorados e namoradas, sofrer ingratidões, chorar algumas decepções e, apesar de tudo isto (ou por causa de tudo isto), ir renovando todos os dias sua fé na bondade essencial da criatura humana e o seu deslumbramento diante da vida.
- Vale a pena conhecer pessoas, ter namorados e namoradas, sofrer ingratidões, chorar algumas decepções e, apesar de tudo isto (ou por causa de tudo isto), ir renovando todos os dias sua fé na bondade essencial da criatura humana e o seu deslumbramento diante da vida.
- Vale a pena verificar que não há trabalho que não traga recompensa, que não há livro que não traga ensinamento, que os amigos têm mais para dar que os inimigos para tirar, que, se formos bons observadores, aprenderemos tanto com a obra do sábio quanto a vida do ignorante.
- Vale a pena ver que toda a amargura nos deixa reflexão, toda tristeza nos deixa a experiência e toda alegria nos enche a alma de paz.
- Vale a pena casar e ter filhos. Filhos que nos escravizam com seu amor e nos concedem a felicidade de tê-los junto a nós e vê-los crescer. Filhos que, ao crescerem um pouco, já discutem conosco, acham que sabem bem mais que nós (e às vezes sabem mesmo) e nós aprendemos com eles.
-Vale a pena viver estes assombrosos tempos modernos em que os milagres acontecem ao virar de um botão, em que se pode telefonar da terra para a lua, lançar sondas espaciais, máquinas pensantes, à fronteira de outros mundos. E descobrir que toda essa maravilha tecnológica não consegue, entretanto, atrasar ou adiantar a chegada da primavera.
- Vale a pena viver, mesmo com todas as limitações a que o ser humano está sujeito, quando lembramos que o surdo vê a luz do sol, que o cego ouve a música das coisas, que o mendigo sonha com as estrelas, que não precisamos de todos os sentidos para participar do esplendor da criação.
- Vale a pena mesmo sabendo que vocês verão coisas que eu nunca vi, assim como vejo coisas que meus pais não viram, e meus pais viram coisas que meus avós não viram.
- Vale a pena, certamente - o saber acumulado dos cientistas e especialistas que revelarão coisas que a mim não foram reveladas. Pode ser que vocês conheçam seres vindos de outros planetas, o que para mim é teoria e especulação, assim como a televisão e outras invenções foram teoria e especulação para meus avós já falecidos.
- Vale a pena, mesmo quando vocês descobrirem que tudo isso que estou mencionando é de pouca valia, porque a teoria não substitui a prática e cada um tem de aprender por si mesmo que o fogo queima, que o vinagre amarga, que o espinho fere e que o pessimismo não resolve rigorosamente nada.
- Vale a pena até mesmo envelhecer como eu e ter netos como vocês, que me devolveram a infância e a juventude.
- Vale a pena mesmo que eu parta e suas lembranças de mim se tornem vagas. Mas quando outros disserem coisas boas de seus avós, espero que vocês possam dizer de mim simplesmente isto:
"Minha avó foi aquela que me disse que valia a pena....E não é que ela tinha razão?"
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