“O exercício da mentira assevera-nos o rosto,
petrifica-nos busto e engrandece-nos a ira. O exercício da mentira
engrandece-nos as posses, ajoelha-nos em preces sob o teto das igrejas. O
exercício da mentira faz-nos fortes, barulhentos, tece grandes pensamentos para
encher-nos de amarguras. O exercício da mentira faz-nos lúcidos, divinos, torna
os animais humanos e torna os deuses caninos. O exercício da mentira (por que
tamanha maldade?) concedeu-nos – que loucura – o exercício da verdade”.
Estes são versos do poeta feirense Roberval Pereyr em
reflexões sobre a mentira. Por que mentimos tanto? Os seres humanos, de um modo
geral, são propensos a mentir. Mente para mitigar suas dores, esconder seus
rancores, disfarçar seus desejos. Mente por não ser capaz de suportar as
verdades de viver.
O ser humano viveria melhor se encarasse a verdade de
frente, porque, como disse Shakespeare, “A verdade é verdade através dos
tempos”. A verdade é o que de real existe, sem sofismas, sem permeios, sem
embustes. Simples, como toda verdade o é.
Por que mentir? Pra que mentir? Se no final a verdade
sempre aparece e prevalece. Melhor pegar logo o touro pelos chifres do que
ficar adiando um confronto inevitável. A vida nos impõe obstáculos diários a
serem superados. Se não os encarregamos logo deles, vão se acumulando e se
fortalecendo. Chegam a um ponto em que se tornam quase insuperáveis.
Digo quase por que sei que Deus não nos dá uma cruz maior
do que a que podemos carregar. Por maior que seja o fardo que nos é entregue,
podemos carregá-lo. Deixar para depois o que é pra ser feito agora, é só adiar
a execução de uma tarefa que teremos que cumprir de qualquer jeito, acumulando
com as outras que virão, aumentando o peso do fardo a carregar.
A mentira nos dá a ilusão de que alguém virá fazer por
nós uma tarefa que só nós poderemos cumprir. Disse John Lennon: “Não espere que
eu, Jesus Cristo, Buda ou presidente da República venha fazer alguma coisa por
você. Você só pode contar consigo mesmo”. Grande verdade!
Mas as piores mentiras são relativas aos sentimentos. Por
que sofrer com desejos e sentimentos que não temos se podemos ser felizes com a
nossa realidade? Olhemos em nossa volta. Em que mundo estamos vivendo?
Prestemos atenção na nossa realidade e não vamos nos fazer de mortos diante
dela.
Este é o nosso mundo. Esta é a nossa realidade. É assim
que somos e é assim que devemos viver. Sem ilusões e sem falsas promessas.
Apenas viver, e não ter vergonha nem medo de ser felizes
com o que temos e o que somos. Apenas isso.
Cristóvam
Aguiar (13.05.2011)
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