Não adianta esconder a própria verdade. Ela escapa por entre os dedos, revelando-se a quem tem olhos de ver.
Verdade que se oculta, demora na revelação.
Há quem olhe para fora, à procura de respostas que na verdade estão dentro, na intimidade de si mesmo.
Uma história ilustra bem essa realidade.
Narra Mansour Chalita1 que Mullah Nasrudin, o homem santo sufista,
exímio gracejador, atravessava frequentemente a fronteira entre a
Turquia e a Grécia, montado em seu cavalo.
Sempre que cruzava a fronteira, levava uma sacola com pedras
preciosas e outra com poções medicinais, pois tinha permissão legal para
transportá-las.
Quando o guarda perguntava qual era o seu negócio, ele respondia:
"Sou contrabandista".
Todas as vezes, o guarda o revistava e nunca encontrava nada incomum.
A cada viagem, Nasrudin ficava mais rico, e o guarda, cada vez mais
desconfiado.
Apesar de todas as revistas, feitas a cada vez com mais riqueza de detalhes, nunca encontrava nada.
Finalmente, o viajante se aposentou. Um dia, encontrou-se em uma
reunião social com o mesmo guarda da fronteira, que lhe perguntou:
– Nasrudin, agora que você se aposentou e não pode ser processado,
conte-me o que contrabandeava, que nunca encontramos e que lhe trouxe
tanta riqueza.
Nasrudin respondeu tranquilamente:
– Eu negociava cavalos!
Um segredo fica mais bem escondido quando é óbvio, e pode ser descoberto quando você para de pensar que ele está oculto.
Assim acontece com nossa saúde. É fácil dizer "tudo vai bem", mesmo
que o que esteja por trás das aparências não seja algo tão bom assim. E
isso passa a ser um risco, quando está em jogo uma solução que precisa
ser rápida, que preserve a vida e a integridade da pessoa.
Há quem esconda tanto a própria realidade, que acaba perdendo contato com a verdade que mora dentro de si.
Emmanuel alerta sobre esse aspecto, quando afirma:
Os reflexos dos sentimentos menos dignos que alimentamos voltam-se
sobre nós mesmos, depois de convertidos em ondas mentais, tumultuando o
serviço das células nervosas que, instaladas na pele, nas vísceras, na
medula e no tronco cerebral, desempenham as mais avançadas funções
técnicas [...] 2
Mais adiante, na mesma página, o Benfeitor esclarece [...] que esses
reflexos menos felizes, em se derramando sobre o córtex encefálico,
produzem alucinações que podem variar da fobia oculta à loucura
manifesta, pelas quais os reflexos daqueles companheiros [...] nos
atingem com sugestões destruidoras, diretas ou indiretas, conduzindo-nos
a deploráveis fenômenos de alienação mental, na obsessão comum, ainda
mesmo quando no jogo das aparências possamos aparecer como pessoas
espiritualmente sadias".3
Um dia, entenderemos que a manutenção da saúde não depende de
remédios e drogas, mas de uma decisão interior, que nos remeta a um
estado íntimo de saúde emocional. Para quem decidir viver nessa faixa
psíquica, "cair de cama" será uma exceção, e não uma regra.
As verdades de nosso corpo espelham nossas opções mentais.
Fugir da própria realidade pode ser uma solução passageira, mas, com o
tempo, essa escolha silenciosamente vai impor uma solução melhor.
É mais interessante encontrar uma maneira de ser saudável, do que apenas estar saudável.
A decisão é nossa. Está em jogo nossa felicidade.
A questão é definir claramente o que podemos fazer para acionar
nossos próprios mecanismos de melhoria, sem precisar depender de
"remédios" que nem sempre estão ao nosso alcance.
http://www.redeamigoespirita.com.br
Fontes:
1) MANSOUR, Chalita. Os mais belos pensamentos de todos os tempos. 2. ed. São Paulo: Ed. Acigi.
2) XAVIER, Francisco C. Pensamento e vida.
Pelo Espírito Emmanuel. 18. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2009. Cap. 15, p. 67.
3) www.sebemnet.org.br; por Carlos Abranches.
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