Antes que ela respondesse com um triste e envergonhado “não”,
ele completou: “então também não tem mais idade pra acreditar em homem, né?”. É.
O pai dela tinha razão. Ela não podia ter acreditado na lenda do cara recém-separado
que, por carência e por maldade, jura amor eterno à nova namorada. Mas ela, tão
tirada a esperta, caiu. Ela era uma daquelas “meninas” recém chegada aos
30 anos que tava achando que sabia tudo, que tinha encontrado o cara mais legal
do mundo pra ser seu namorado. Ele era um daqueles caras passados dos 45 anos
que, pela idade e pela experiência, parecia saber o que estava fazendo e
demonstrava ao mundo ter encontrado a mulher dos seus sonhos.
Namoro em família, amigos a favor e um monte de candidato
a padrinho de casamento. Ela acreditando. Ele se divertindo. Tava na cara
que isso não ia dar certo. Quem não vê que um cara que vivia exaltando as
qualidades da novata e excomungando os defeitos da ex não tava ali dando
atestado de que não tinha superado a separação? Tava na cara, mas ela não
via. Ele voltou pra “cheia de defeitos” sem nem se dar ao trabalho de
comunicar à “perfeitinha” que ela já era. Já era, não! Ela nunca foi, só ela
não sabia. As perguntas que o pai fazia só machucavam mais, mas o que ela
ouviu em seguida a fez enxugar as lágrimas e acalmar a alma.
“Apesar da idade, você não é a primeira e nem a última a
cair nessa conversa, sofra hoje o que tem pra sofrer pelo fim desse namoro e
amanhã levante a cabeça, pois você será mais feliz sem ele. Mulher, diferente
de homem, consegue ser feliz, sim. Casamento? Só faz bem ao homem, à mulher é
sempre uma cruz. Se a mulher tivesse a certeza que o casamento ia ser bom de
verdade, ainda assim não valia a pena casar. Mulher tem o poder de viver só, de
se bancar e se bastar. Homem é quem precisa de uma mulher pra não se perder na
vida. Além disso, não tinha como dar certo. Ele já vinha pra sua vida com uma
história contada, com uma vida vivida. Ele trazia filhos e ex mulher. Você
merece encontrar alguém que escreva uma história com você e não ser apenas
participante numa história já em andamento.”Ela saiu da sala chorando aliviada.
Percebeu que a dor que tava sentindo não era de saudade e nem pelo fim do
namoro e sim pelo medo do que ouviria do pai, o pai que, quando comunicado do
romance, só fez uma pergunta: “você acha que isso tem chance de dar certo?”.
Ela achou que tinha, o pai sabia que não, mas a deixou viver pra aprender.
Após isso, a balzaquiana passou cinco anos se divertindo,
começando historinhas que não passavam de piadas rápidas, acreditando que dava
pra ser feliz sozinha e, sim, ela era feliz sozinha. Aquele cara ficou no
passado, outros carinhas também foram enviados pra lá e uma parceria pra
escrever o presente e o futuro surgiu “do nada”, trazendo uma folha em branco,
porém com tinta permanente e fazendo-a ter a certeza de que era feliz sozinha,
mas que é muito mais feliz acompanhada.
Casar? Ela não sabe se quer. Nem julga tão necessário.
Ser feliz? Ser a cada dia mais. Eis a meta.
Maristelly de Vasconcelos
Publicado em Sem Essa de Amélia
Garota esperta!! :-)
ResponderExcluir(Adorei o texto...)